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"Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive." (Ricardo Reis)

Faz-me sentido...

"No mundo sempre existirão pessoas que vão me amar pelo que sou, outras que vão me odiar pelo que sou e outras, ainda, que ora me vão amar ora me vão odiar pelo que sou.
Sabendo disso, vivo livre. " (in a Alma das Imagens)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"Compassione"

"compaixão: dor perante o mal alheio; pena; piedade; comiseração; lástima."






"- Não tenho mais dólares" - disse eu a dada altura, no meio de flores estendidas por inúmeros braços.


"- Não faz mal" - interpretei eu através da conjugação dos sons verbais, expressões facial e corporal que subscreveram a entrega de mais uma flor.


.... Não consegui evitar o sentimento.
Compassione, soa melhor em latim, mas apenas por uma questão fonética. O contéudo é o mesmo, a realidade também. Impossível ficar indiferente perante crianças a darem-te flores. Houve pessoas que conseguiram só pensar numa perspectiva: estão aqui para comover os turistas e ganhar com isso; não estão a passar fome, não são mendigos, têm família e casa de acordo com a sua cultura, quem somos nós para achar que a nossa é melhor...etc,etc...


Mas em mim nascem sentimentos contraditórios que se atropelam e se tentam anular uns aos outros para equilíbrio da minha saúde mental/ emocional: compaixão, vergonha, ternura, impotência...

Compaixão: por serem crianças que em vez de estarem a brincar, estão a tentar receber algo dos turistas,quer seja dinheiro, rebuçados ... porque por algum motivo precisam disso. Será só uma questão cultural? A minha consciência gostava que eu acreditasse mesmo nisso.
Vergonha: quem sou eu para achar que os miúdos vivem em piores condições que eu? Quem sou eu para sentir compaixão por uma realidade que desconheço? Como posso eu dormir descansada e gastar tantos dólares numa visita de um dia como eles ganham num mês inteiro?
Ternura: pelo olhar que nos toca a alma; pelo sorriso descomprometido; pela plenitude que aparentam ter...
Impotência: o que se pode fazer? Deixar de ir de férias? Deixar de viver o nosso conforto? Sim, há pessoas que o conseguem fazer mesmo sabendo que isso não vai mudar o mundo? Serei eu egoísta por não fazer o mesmo? Por me obrigar a acreditar que a forma como trabalho já permite influenciar o mundo de alguém? Até que ponto somos responsáveis pelos outros? Como podemos sorrir sabendo da injustiça do mundo?
Nota: a foto foi tirada com a autorização dele, mas achei melhor não expor o seu sorriso, desta vez.

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