... quando a morte chega e nos tira uma das poucas raízes que temos?
Não posso dizer que tenha sido um choque...já estava à espera deste fim...e quando ele acontece...não sei o que sinto.
Fico quieta. Penso no meu pai, nos meus irmãos, no sofrimento que devem estar a sentir, no que posso fazer para atenuar a sua dor. Também devia estar a sofrer...esta apatia é sofrimento? Esta aceitação é sofrimento?
Se pudesse escolher optava pelo choro e não por umas tímidas lágrimas que mal se mostraram logo se esconderam. Porque raio eu não consigo chorar como é "esperado". Todos vão abaixo e eu mantenho-me firme a servir de apoio para se poderem erguer. Só consigo pensar neles.
Talvez tenha algum problema...a minha irmã a soluçar, e eu, serena, a tentar tranquiliza-la. Como eu consigo estar calma nesta altura? Se eu pudesse escolher ficava quieta num casulo, saltava todos os rituais estabelecidos por esta sociedade automatizada. Vou participar por eles, para os apoiar.
Eu...a única coisa que eu sinto, por estranho que pareça, é agradecimento por ter tido a oportunidade de me despedir, mesmo sem saber que o estava a fazer. Sinto-me em paz por isso.
A ceia de Natal...o único momento que se mantinha quase inalterado desde a minha infância...já não é mais do que recordação.
Lá estão elas outras vez...uma e outra lágrima que aparecem e logo vão embora mesmo sem eu pedir.
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